MORRIS ALBERT
''Feelings'' de volta depois de 30 anos de sua composição
Maurício Alberto Kaiserman, de 52 anos, caminhava sossegado pelas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo na semana passada. Mesmo quem olhava desconfiado, com a sensação de que o conhecia de algum lugar, não chegava a importuná-lo. Ninguém sabia que estava ali o brasileiro que mais discos vendeu no mundo, sob o pseudônimo de Morris Albert. Canção de sua autoria, ''Feelings'', lançada em 1974, teve 6 mil gravações diferentes e vendeu mais de 100 milhões de cópias ao longo desses 30 anos. No Brasil, onde vem raramente, Albert - que mora na Itália - está lançando um CD, Moods. Comemora não só as três décadas de seu principal hit, como a inclusão da música no disco A Foreign Sound, em que Caetano Veloso gravou standards da música americana. ''Uma honra enorme'', diz o compositor, que na semana passada participou de uma série de programas de auditório.
PHOLHAS
Começaram em bailes e fizeram sucesso até os anos 80
Morris Albert faz parte de um fenômeno maior: nos anos 70, um grupo de brasileiros compôs e cantou em inglês usando pseudônimos e fazendo grande sucesso. Terry Winter, Patrick Dimon, Chrystian, Malcolm Forrest, Pete Dunaway, Mark Davis e Dave Maclean foram alguns, além dos grupos Light Reflections, Sunday, Lee Jackson e Pholhas, entre tantos outros. Muita gente nem sequer sabia que, por trás das canções que invadiam as rádios, as pistas e as trilhas das novelas estavam compatriotas. Até porque grande parte dos sucessos ganhou o mundo. ''Feelings'' é o exemplo paradigmático: a maioria dos americanos pensa até mesmo tratar-se de um standard nacional. Mas houve outros. Patrick Dimon, intérprete da bizarra balada ''Pigeon Without a Dove'', vendeu 5 milhões de discos em 98 países. ''Hoje vivo de shows em casas de espetáculos e transatlânticos'', vibra ele. ''Tell Me Once Again'', do Light Reflections, também estourou dentro e fora do país, gravando oito compactos e dois LPs em apenas cinco meses do ano de 1972. ''Vendemos 1 milhão de cópias e fizemos shows em toda a América Latina'', lembra André Barbosa, líder do grupo, hoje professor universitário.
Divulgação
O grupo Pholhas nos anos 60
O fenômeno dos brasileiros cantando em inglês pode ter várias explicações. A primeira é a própria preferência do público. ''Em São Paulo, especialmente, em lugares como o Círculo Militar, platéias de até 5 mil jovens se espremiam em bailes animados por covers de grupos estrangeiros'', relata o historiador Fernando Carneiro de Campos, que prepara um livro sobre o tema. A corrida aos bailes tinha razão de ser. Naquele tempo, os hits internacionais chegavam às rádios principalmente através de fitas e compactos trazidos de fora, muitas vezes por funcionários de empresas aéreas. As canções tocavam no rádio, mas não estavam disponíveis nas lojas. ''As poucas gravadoras do país resolveram lançar, no mercado nacional, brasileiros cantando em inglês'', diz Claudio Condé, ex-integrante do grupo Lee Jackson, hoje presidente da Warner no Brasil. Medalhões como Fábio Junior - que na pia batismal foi ungido como Flávio Galvão - usavam mais de um pseudônimo: foi Uncle Jack e depois Mark Davis.
MALCOLM FORREST
Hoje é escritor e faz a tradução simultânea do Oscar na TV
Cantar em inglês era fácil para apenas alguns: Morris Albert, filho de austríacos, havia estudado fora do Brasil. Patrick Dimon, rebento de um cônsul grego no Brasil, falava vários idiomas. Terry Winter, pseudônimo de Tommy Standen - um pioneiro que morreu há cinco anos -, pertencia a uma família britânica. E Malcolm Forrest, atualmente escritor e tradutor, tem pai americano. ''Os outros iam aprendendo por meio das músicas mesmo'', diz Oswaldo Malagutti, produtor musical e ex-integrante do conjunto Pholhas.
CHRYSTIAN
Do romântico em inglês ao sertanejo com o irmão Ralf
O sucesso se intensificou com o casamento desses artistas com as trilhas das telenovelas. ''Naquele tempo, era difícil as emissoras conseguirem os direitos de grandes nomes internacionais, daí essa leva de artistas cantando em inglês ter sido um achado'', diz Hélio Costa Manso, ex-integrante do Sunday e atual diretor da Som Livre. ''Feelings'' foi sucesso em A Corrida do Ouro (1974), ''She's My Girl'', outro sucesso de Morris Albert, explodiu em Anjo Mau (1976). Chrystian - ou José Pereira da Silva Neto -, hoje dupla sertaneja com o irmão Ralf, emplacou um de seus maiores êxitos, ''Don't Say Goodbye'', na trilha de Cavalo de Aço (1973). ''Ficávamos no corredor da gravadora esperando informações sobre o personagem que ganharia o tema. A música, o arranjo, tudo era composto ali, em um ou dois dias, sob encomenda'', conta Chrystian.
MICHAEL SULLIVAN
Grande sucesso em novelas, hoje compõe e é produtor musical
Michael Sullivan, intérprete de ''My Life'', da trilha de O Casarão (1976), arrematou um disco de diamante com as vendagens torrenciais do compacto da música. ''Eram tempos de ditadura e fomos criticados por cantar em inglês, mas não era uma questão política: era briga pelo mercado para valer. Nas rádios, tocavam quatro músicas estrangeiras para uma nacional'', diz Sullivan, cujo nome de batismo é Ivanilton de Souza Lima, compositor e produtor musical.
MARK DAVIS
Começou como Uncle Jack e hoje atende por Fábio Junior
Hoje, a proporção de músicas nas rádios é oposta à dos anos 70: há cerca de quatro músicas nacionais para uma estrangeira. A incursão de brasileiros na música americana, porém, continua fazendo sucesso. Em 1994, Renato Russo lançou o álbum Stonewall Celebration Concert, que teve - e ainda tem - excelente vendagem. Artistas como Marisa Monte, Rita Lee e Herbert Vianna têm o costume de incluir em seus discos faixas em inglês. Caetano Veloso, agora com A Foreign Sound, vendeu 50 mil cópias em apenas três dias. Definitivamente, cantar na língua do Tio Sam dá samba.
PATRICK DIMON
Filho de gregos, ganha a vida com shows pelo mundo
EM FLASHBACKQuem eram os intérpretes dos sucessos da década de 70
TERRY WINTER Pioneiro, em 1971, com a balada ''Summer Holiday''
PETE DUNAWAY Intérprete do hit ''I'll Be Fine''
SUNDAY Sucesso com 'I'm Gonna Get Married'
LIGHT REFLECTIONS
Vendeu 1 milhão com ''Tell Me Once Again''
LEE JACKSON Um dos quatro maiores grupos da época
TONY STEVENS
Jessé brilhou com a balada ''If You Could Remember''